Sociedades tradicionais da África representadas no acervo do MAE: | Bambara |
Do "Dicionário de civilizações africanas", organizado por Georges Balandier e Jacques Maquet, tem-se que:
Essas esculturas são peças usadas como topos de máscaras, sendo por isso também chamadas de "adorno de cabeça". São duas máscaras que se apresentam em par e simbolizam o sol e a terra, por intermédio de dois antílopes: um macho e, o outro, fêmea. Há referências de que se trata de um animal híbrido, podendo ser um antílope-pássaro ou serpente, fazendo-se referência ao ar e solo. Esses topos de máscara em forma de antílope recebem o nome da associação: tyiwara, sendo que tyi significa "trabalho" e wara, "animal". Repousam sobre uma base retangular furada, permitindo fixá-las a uma calota trançada a qual se fixa uma vestimenta de fibras compridas. Colocado sobre a cabeça dos mascarados, o conjunto esconde seu corpo. Na dança, eles gesticulam o trabalho da terra segurando duas estacas nas mãos e imitando os saltos dos antílopes. Essa máscara era trajada por membros da associação correspondente durante as festividades agrícolas, antes da estação chuvosa, a fim de promover a fertilidade do solo. Tem-se também que apareciam na semeadura e colheita. Há uma grande variedade dessas "máscaras-esculturas". Além de umas serem mais estilizadas e outras mais naturalistas, há as que têm o chifre posicionado na vertical, outros na horizontal. De acordo com Jacqueline Delange, em "Artes e povos da África negra", isso pode determinar a sexualidade inferida pela escultura, mas também é certo que o grau de estilização e naturalismo está relacionado à região dos Bambara onde se produz e utiliza a máscara a que a escultura se destina. Sobre as estátuas propriamente ditas dos Bambara, temos muito poucas informações precisas, embora sejam muito difundidas as de sexo feminino. Sua principal característica formal é a formulação de seios altos, cônicos e pontudos. Sobre a estatuária dos grupos mande, de que os Bambara fazem parte, Jacqueline Delange, acima citada, ressalta que os seios, sempre fartos, indicam a importância do elemento feminino, e a cabeleira trançada em forma de cúpula, típica dessa estatuária, sugere a maternidade: a multiplicidade de cristas seria a representação do número de filhos. Essa descrição encontra correspondência na quarta peça em madeira atribuída aos Bambara no acervo do MAE: uma estátua feminina janiforme (No. Tombo 77/d.1.2).
O fato dela ser composta por duas metades, uma de costas para outra, só acentua a idéia de uma totalidade formada por partes complementares, e inter-relacionada. Assim, estátuas dos Bambara como essa, sugerem a associação entre o feminino e a progenitude, e, por isso mesmo, entre a mulher e o homem. Sugere também a complementação de opostos resultando na totalidade. Observe-se que essa peça possui, como um desses topos de máscaras citados, aplicação em metal (provavelmente latão) e pano vermelho, provavelmente de origem européia. Muito provavelmente foi feita para o comércio, ainda que regida por modelos locais, sendo esses elementos decorativos um sinal de sua origem estilístico-cultural. Referências bibliográficas: BALANDIER, Georges e MAQUET, Jacques. Dictionnaire des civilisations africaines. Paris: Hazan, 1968. DELANGE, Jacqueline. Arts et peuples de l'Afrique Noire/ Introduction à l'analyse des créations plastiques. Paris: Gallimard, 1967. HAMPATÉ BÂ, Amadou A tradição viva. História Geral da África: Metodologia e pré-história da África. São Paulo: Ática; Paris: Unesco, 1985. LEME, Tiago José Risi. Aspectos sócio-culturais da arte e cultura das sociedades baulê, senufo, bambara e dogon. Texto não publicado, 2003. SALUM, M.H.L. Notas discursivas sobre as máscaras africanas. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, n. 6. p. 233-253, 1996. ZAHAN, Dominique. Signification et fonction de l'art dans la vie d'une communauté africaine: Bambara. Colloque sur l'art nègre: Festival mondial des arts nègres. Dakar, 1966: pp. 33-45. |